segunda-feira, 16 de maio de 2011

A morte de Wellington Lyra ou "Sobre o manifesto poetico de 15 de maio"

Sobre o manifesto poetico de 15 de maio*
ou
*A morte de Wellington Lyra


Ramon Cunha, Denilson Siqueira, desculpem meu atraso!... Fiquei ateh a manhã de domingo pensando no figurino que ia usar... E aih quanto veio a inspiração, já fui tomado pelo enredo do personagem, deixei meu corpo vagar no ritmo dele... Foi uma experiência muito forte; pisar descalço a frieza dos paralelos que servem de tapete para o deslize dos banhos à fantasia... o asfalto seco da pista que faz descer as bandas de fanfarra... os blocos de carnaval... Pisar na água suja, na lama, na quentura do concreto ao meio dia... Uma experiencia tão intensamente coletiva quanto dolorosamente solitária... Um pequeno calvário pagão, de uma figura escusa, estrangeira à sua própria terra, que todo artista deveria vivenciar um dia... Horas a fio em caminhada, ora em meio à multidão de estudantes, ora nas vielas vazias dos bairros... Uma sensação absurdamente real de estar representando a via sacra dos artistas de cidades do interior: inteiramente largado à deriva de suas criações poeticas, malfadado à sorte dos patrocínios tutelares, das políticas menores, da falta de perspectiva de crescimento...

No fim do grande circo que eh este momento de celebração, encontro-me atrás do último veículo oficial da prefeitura, uma retroescavadeira, estacionada à espera de sua entrada triunfante no desfecho fetichista onde nos aguardam os homens do poder... Ônibus, ambulâncias, tratores... e no fim de tudo, o artista - mais uma objeto à serviço da manutenção do status quo do imperio...

Toca a banda, anuncia o locutor, aplaudem os poderosos.
O circo encerra sua odisseia popular, e o artista cambaleia, inerte, absorto, ignorado, engolido.

Não há espaço para artistas nesta cidade.
Há, entretanto, espaço para tecnicos da arte, para trabalhadores da cultura, para funcionários públicos do setor, para amigos da cúpula.

Para artistas, como nós, que como disse o professor Silvio Francisco num email recente, "cheiram mal", o que há eh a indiferença.
Não lhes importa se estamos vivos ou mortos; se estamos vagando pelas ruas ou pulando do alto de viadutos...

---------------------------

Numa proposta cenica sintetica de uma pequena via sacra, experimento o sangue, o suor, as lágrimas, os açoites, a zombaria, a solidariedade confusa dos passantes... tal qual um cristo generico.

E tal qual um cristo mambembe, considero-me morto para esta cidade, meu corpo sem forças pendurado no alto da cruz. 15 de maio, ao contrário do que disse Vinicius Maia Cardoso ("Dia da Revolução Cultural Macacuana", em um outro post no facebook: http://www.facebook.com/photo.php?fbid=1604865696252&set=a.1271634005668.33163.1674422121&type=1), eh a data de minha morte.

Aos que ficam, levem para sempre a memória de alguem que foi consumido pelas forças sinistras da modernidade.

Ateh.