terça-feira, 27 de abril de 2010

Poema resumo até 27 de abril



"Considerações sobre uma luta inglória"
ou
"Dá vontade de partir"

1
Ruminâncias
Há dias em que lutar parece significar poente
Pratos desses de se servir à noite
Após orkut e twitter vazios

Eu sento meu corpo no escuro
Banhado de sombras
Oculto de mim

O culto que prezo nos dias
Adias teus passos sem fim
Passeias sem sol por escadas
Nem liga, nem dança, nem logo, nem sim

Rumino meus ideais,
mastigados exaustivamente
até perder o gosto
E gosto.
É de saber que neste ponto,
após qualquer vestígio de prazer,
os alimentos já sem fibras
ou coloração,
É sempre neste ponto
que sobra o pino da verdade:
a mastigação autônoma,
robótica,
soviética,
revela em seu amargor sem torpe
uma refeição cruel e necessária.

Ruminar é essencial
para não cuspir ansiedade.

Desintegrar-se é estratégico
para quem entende a fome.

Tenho fome. Meus frutos estão secos.
Meus pratos sujos,
Meus amigos tontos,
Meu estômago cáustico.

Aguardo luz.

2
Quissamanga
Fui pra praia
ver o mar
catar conchas
caminhar horas a sol na areia

Recobrei olhares ancestrais
com minha mãe, o mar
perdido no vazio do oceano,
já protagonista de tantas
histórias em mim...

Quissamanga,
Quizanga,
Quissamã...
...o mar!

Descobrindo flores nunca dantes vista
Caminhando a sóis
a sós que não se fica!

3
Depressão pós-parto
...só é chato às vezes,
depois de agitar
algumas montanhas,
sentir que aquele frio
de dez, quinze anos atrás,
volta bem quietinho
e se acomoda no fim da sala,
à espreita.

Estar em estado depressivo
é sempre uma lembrança
que atormenta,
por mais distante que pareça.

A possibilidade de paralisar
É algo que tenho que conviver,
Para além de qualquer entrave
- é condição.

Como me disse Michelle, agora,
Que os deuses me acompanhem
nesta senda;
Estou aberto para o lado cruel da vida
E rogo por um apoio cultural.

=)

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Pra que uma secretaria de Cultura?

Ou "Indignações"
Minissérie em 3 capítulos


Bem, amigos da Rede Globo... Estamos de volta com mais uma emocionaaante partida entre dois dos maiores times da atualidade: do lado direito do campo, eles, que já conquistaram váááários campeonatos nos últimos anos, sempre apoiados pelo presidente da liga e por zilhões de torcedores fanáticos, o time Público-Privado!!!... E do outro lado, o time sensação que vem crescendo muuuito nas últimas partidas, os bravos guerreiros sem patrocínio nem local de treino e nem mesmo dias para treinar!... eles, os incansáveis e destroçados: os Civis-Sociais!!!!...

O juiz olha o relógio, olha para os bandeirinhas... e está dado o início desta partida deeeecisiva!!...
(...)

FIM DO CAPÍTULO 1

domingo, 11 de abril de 2010

um poema-resumo até abril de 2010

Poema-resumo
(o poema tem um certo ritmo, para música, que só eu entenderia; não considere isso, tá?)


"Abril de 2010"
ou "Turbulências"


1. Lições da perda de um primo
Dito o que disse,
Fosse o que fosse,
Foi-se o que foi,
Fica no pé de página a nota
de se fazer de novo
o novo.
O novo que finca abrigo
e fala:
" - Que foice que tem um nó."
A foice que fica triste
e esfola
um primo que tenha dó.


Perdi na solidez do asfalto
o primo que anda só;
batido no passar das horas
se foi
historias da minha vó
Não vi minha vó querida, não vi
No tempo que já se foi
Reflexos de sua mão banida
cadê?
materno deleite em pó


Só sonho de madrugada
eu vivo
catando canais a sós
Levanto ao meio-dia
a sós
Baixados todos os sóis
Baixando na internet
eu vivo
canções d'índio pataxó
Bebendo o sagrado vinho
eu vou
falando todos os sóis


2. Brasília, março
Teve outro dia que embarquei na utopia de querer
me reaver mesmo à distância de um tempo;
Tomei um barco de dois eixos
contraponto, contracanto, comtracultura, contrapiso
e mil quilômetros além,
Brasília estou.


Enfeitiçado de brasis,
brasados, brasos, passarados,
Etnias, brados, euterpes, lumiares,
Quanto olhar brilhante junto -
me queimou
O coração de um taquicardíaco amolecido
deu novos saltos de temor e desbravura
...e renascido dos escombros de minha própria brandura adquirida,
A utopia abaixo irei.


Brasília desocupou
minha querência
e brotou novo.


A Cultura é maior que todos nós.


3. Considerando que não há mais tempo
(balada pra morte)
Quando lembro que vivenciei a morte
em meus pequenos feitos
em momentos puros
ao menos umas três vozes,
Fico retido em mim com a impressão
de que nem toda impressão
é para sempre.


Quando senti meu coração tão fraquejado,
sacolejando no vazio do peito
feito feijão cru num saco frio,
após quatro anos de sofrimento trabalhista
...
...e após verificar-lhe o ritmo sôfrego por meio de aparelhos,
cordões, fiapos e esteiras,
deu-me conta de que patrões não são pagos
para dar saúde a seus escravos.


Rendi-me à escuridão do retiro.


Salvei-me do iminente colapso
cardíaco,
com uma brava decisão...
de parar no tempo.
Carrego ainda assim
meu prolapso
no peito,
bússola mambembe que me guia alto
e temorosamente cega.


Das outras vezes,
em alguma espécie de êxtase
espiritual,
devaneio simbólico
ou sonho madrugal,
vi de perto a descolação de meu próprio ser
de sua finitez palpável,
Observando a morte como um doce dia
bem de perto
bem de leve
feliz por entender que nela
o de mais belo vem.


E ao tocar na divina veste de Jesus
indianamente colorida,
fiz-me menor que meu ego inflado
E entendi
que muitas são as moradas
e muitos nomes mais.


4. Pé ante pé
Pé ante pé
sigo a roda
Faço a curva
pego o trem;


Pá ante pá,
cavo o brejo
cravo a rosa
broto luz.


Sol ante sol
minha fronte já madura
espelha amor,
teimosia e tédio.




> Ai, como é bom escrever em versos livres sem ter que dizer nada a ninguém... =)
Cumpro meu papel, faço-me entender a mim mesmo; deixo alguns curiosos, outros desleixados, e vamos que vamos pra vida!
SÓ POR CURIOSIDADE: dos assuntos que trato neste poema-resumo, estão a morte do meu primo, há um ano; a Conferência Nacional de Cultura da qual participei; minhas experiências com a morte; e a campanha para a criação da Secretaria de Cultura em Cachoeiras de Macacu. Não se apercebe nada disso no poema? Oba, então consegui o que queria! =P


Abraços.