OU: Quando chega o momento de ter ÍMPETO |
O líder é um ponto de referência para onde todos canalizam sua atenção, ou seja, sua energia vital. |
Existe um pequeno problema em se tornar uma liderança popular. Você passa a ser um alvo em potencial. Você passa a ser um alvo das pessoas que são contra o que você prega, mas também se torna um alvo das pessoas que te seguem - aquelas que concordam com você.
Explico:
Na posição de líder, seus ditos "inimigos" (na maior parte das vezes não por sua escolha, mas pelo fato de que eles mesmos não admitem seus posicionamentos pessoais e optam por demonizá-lo a qualquer custo), descarregam em você rajadas de vibrações negativistas, votos de insucesso e tempestades de cólera - porque enxergam nos seus posicionamentos (do líder) algum tipo de ameaça ao seu próprio império particular, às suas ambições particulares.
Geralmente, conflitos desta natureza nascem do embate com outros líderes - ou pretensos a sê-lo. Visões diferentes volta e meia entram em choque - e é só pelo embate direto que essas diferenças são postas em questão.
No outro lado da toada, uma liderança popular acaba sofrendo por um viés que a princípio não considerava possível, mas que o afeta igualmente: seus próprios aliados, aqueles que fomentam as mesmas questões ideológicas que você, acabam se tornando - também - geradores de energia pesada que é descarregada sobre o líder: ansiedade, expectativa, cobrança, alienação de sua própria responsabilidade, e por aí vai...
Quando a batalha por alguma conquista relevante se apresenta, o líder, às vezes, por mais que tente manter sua linha de atuação regular e previsível (para seus aliados, ao menos), se vê obrigado a ter uma atitude mais frontal, a desferir um golpe mais vigoroso, a considerar um caminho menos previsível.
Em suas qualidades de liderança, esconde-se uma que é pouco reconhecida e que por isso causa estranheza a seus próprios aliados: o ÍMPETO, ou seja, a autonomia de ações.
Causa estranheza porque, até certa altura, era justamente a previsibilidade e retidão do líder que faziam dele uma figura a ser venerada e seguida por outros. Era sua capacidade de aquietar-se nos momentos de conflito que inspiravam a confiança de seus seguidores.
Entretanto, o líder, em suas difíceis decisões estratégicas - mesmo considerando a opinião daqueles que sempre o cercaram - acaba tendo que escolher um próximo passo vigoroso ainda que a despeito da "segurança" social que os seus lhe haviam colorido. Se os seus enxergam nele uma reserva eterna de previsibilidade e até mesmo uma certa negação ao conflito, o líder, por sua vez, uma vez tendo se imbuído dos valores que lhe tornaram liderança, não pode se furtar a esses mesmos valores quando seu coração o convida ao embate.
Se acredita que a justiça está acima de nossa comodidade pessoalista, vê-se obrigado moralmente a ser justo - e não apenas a discursar sobre justiça...
Se crê que a coletividade está acima de nossa miudeza individualista, vê-se impelido moralmente a lutar pelo que é direito do coletivo - e não apenas a discursar sobre direitos...
De tal maneira, que, após reunir os argumentos e valores que serão seu elmo e escudo numa próxima batalha sem término previsível, o líder - que nos momentos de conflito não sabe se poderá contar com todos os admiradores que lhe foram fiéis até o momento (pelo simples fato de que nem todos são líderes e nem todos são chegados ao combate) - cavalga seu próprio destino e lança-se ao desafio de lutar sem nem ao menos saber se a violência do combate agradará aos seus, que tanto lhe veneram...
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Alguns não se agradarão, por entender em atos "imprevisíveis" um certo desvio da conduta com a qual o líder se apresentava até então aos seus liderados.
Outros até se afastarão, por medo de que o líder tenha enlouquecido em seus anseios por liberdade.
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...Entretando, algumas coisas PRECISAM ser feitas e apenas um líder desprovido mesmo de sua própria reputação com os seus, seria suficientemente audaz para empreender tais feitos. Afinal, de que adianta manter uma imagem irremediavelmente perfeita e previsível para com seu círculo de seguidores - correndo o risco de que esta imagem esteja a ser mais importante que os valores "discursados" por todos - e nos momentos de embate furtar-se à imprevisibilidade da batalha por nunca ter considerado que certos passos são dados à sorte do Destino?... E não serão justamente estes passos decisivos os que ao final lhe configurarão como atos de uma liderança real (e não apenas comodamente discursada) ou de um louco desvairado e falso messias, caso sua estratégia tenha falhado?
Se funcionar, ou se ruir, são lados opostos de uma mesma moeda chamada ÍMPETO.
Se fica na história como herói ou como louco, não importa. O líder poderá dormir em paz porque fez o que clamava seu coração - e é a ele que deve respeito; e é por ele que se tornou uma liderança.