sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Dia da Cultura! CACHOEIRAS DE MACACU




Hoje é o Dia Nacional da Cultura!
Assim como em todo território brasileiro, também aqui em Cachoeiras de Macacu!

Vamos ver o que temos para comemorar?

Pensemos juntos: o que devem estar fazendo os jovens e as crianças a esta hora (fim de tarde) nos bairros de Maraporã, São José da Boa Morte e Guapiaçu?
Será que rola uma sessão de cineclube para as mães de família que moram lá dentro no Areal? Ou quem sabe um showzinho de voz e violão nos confins de Coco Duro, ou mesmo ali na entrada de AgroBrasil??...

Será que alguém lembrou de inserir a bucólica Serra Queimada no roteiro de apresentações daquele grupo teatral famoso que passou por nossa cidade? Será que tem aula de artesanato ou pintura para os talentos escondidos do Faraó?
Um recital de poesias no Estreito...? Um concurso de contos no Valério...?

Pra onde será que foram os grandes cantadores, foliões e escultores de madeira do nosso interior?... Pra onde foram suas obras?... Será que no mato não há cultura?? Será que na roça ninguém se expressa???

Areal, Subaio, Valério, Castália, Ribeira, Taboado, Marubaí, Funchal, Guararapes, Anil, Santo Amaro, Soarinho, Quizanga, Agro-Brasil...
Da serra à baixada... seguindo a trilha do Rio Macacu, nossos dias passam inertes e sem brilho devido à falta de uma política cultural de verdade que entenda a CULTURA como necessidade básica do cidadão brasileiro - tanto quanto comida e saúde.

NO DIA DA CULTURA, MEU PROTESTO CONTRA UM GOVERNO QUE PÕE NUMA MESMA BALANÇA: ECONOMIA, INDÚSTRIA, COMÉRCIO, TURISMO E CULTURA, SUFOCANDO AS POSSIBILIDADES CULTURAIS EM NOME DE UM "PROGRESSO" EQUIVOCADO.
NO DIA DA CULTURA, MEU PROTESTO AINDA MAIOR CONTRA UM SECRETÁRIO QUE, OBSERVANDO ESSA DISPARIDADE DEBAIXO DE SEU NARIZ, INSISTE EM IMPEDIR QUE OS ARTISTAS E GESTORES DA CIDADE POSSAM CONTRIBUIR COM SUAS IDEIAS - IDEIAS DE QUEM VIVE NA PELE A INFELICIDADE QUE É CHEGAR AO NOSSO DIA, SEM NADA A COMEMORAR...

Todos nós - artistas, público, moradores dos bairros mais afastados - sofremos um BOICOTE da Secretaria de Cultura quanto à reestruturação do Conselho de Políticas Culturais, único instrumento capaz de iniciar uma mudança concreta na gestão de Cultura em nosso município. Há 11 anos escutamos o mesmo discurso de gente que quer cavalgar sobre nós unicamente para satisfazer seus ambiciosos projetos pessoais de ascensão e permanência no Poder. Há 11 anos assistimos à degradação do movimento artístico cachoeirense, que vê um arte-educador respeitável e amado por todos fazendo o jogo sujo de uma pessoa que nada sabe de Cultura, mas que infelizmente exerce tamanha influência opressora que não resta ao assessor técnico nada mais que abaixar a cabeça e figurar como marionete neste jogo... Todos temos vergonha desse papel. Alguns mais, outros menos. Alguns porque vivem da arte, porque dela dependem para viver e para sobreviver. Outros nem ligam mais, já se acostumaram - estão encarcerados em suas próprias conquistas pessoais e de nada vale o embate por melhorias para todos. Não lhes parece agradável o conflito político, a crítica feroz, o embate direto - preferem sentar-se confortavelmente em seus sofás para ver a novela das oito, ostentando num certificado ou num porta-retratos seu portentoso papel de "ARTISTA"...

Artista?

Artistas que não se incomodam com o estado precário das condições de seu próprio trabalho?
Artistas que esquecem das necessidades dos capoeiristas, por exemplo, tão logo seu pincel e sua tinta lhes forem dados?
Artistas que não reconhecem em seus pares de profissão uma única classe que luta pelos mesmos ideais humanistas?
Artistas que estão plenamente satisfeitos com a vida??...
...existe essa categoria de "artista"?



Citando O Rappa, despeço-me desejando a todos os ARTISTAS DE VERDADE um Dia Nacional da Cultura revigorador:
"A minha alma tá armada e apontada para cara do sossego;
Pois paz sem voz, não é paz...
...É medo."

Wellington Lyra
ARTISTA
05/11/2010

2 comentários:

  1. Meu amigo, sem comentários. Estou contigo e não abro. Faço das suas palavras as minhas palavras, e das palavras de Antoine de Saint-Exupéry o estímulo para reivindicar o que se precisa e o estímulo da minha indignação com esta situação.

    "É fácil estabelecer a ordem de uma sociedade na submissão de cada um dos seus componentes a regras fixas. É fácil moldar um homem cego que tolere, sem protestar, um mestre ou um Corão. Mas é muito diferente, para libertar o homem, fazê-lo reinar sobre si próprio.
    Mas o que é libertar? Se eu libertar, no deserto, um homem que não sente nada, que significa a sua liberdade? Não há liberdade a não ser a de «alguém» que vai para algum sítio. Libertar este homem seria mostrar-lhe que tem sede e traçar o caminho para um poço. Só então se lhe ofereceriam possibilidades que teriam significado. Libertar uma pedra nada significa se não existir gravidade. Porque a pedra, depois de liberta, não iria a parte nenhuma." (Antoine de Saint-Exupéry).

    Então meu amigo, sentímonos livres (mais do que os que pensam que nos seguram) e protestemos e façamos da nossa arte a expressão maior do espírito de liberdade e da cultura que se desenvolve em nós.

    Parabéns e muito obrigado por seu blog!

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  2. Caro Ramon,

    Não nos causa estranheza o fato de a arte ter essa capacidade gigantesca de promover a diversidade humana, fortalecer a auto-estima, evitar a degradação social, estimular a convivência pacífica, gerar oportunidades de emprego, engrandecer a identidade de um povo, buscar soluções criativas para velhos problemas, entre tantas outras aplicações POSITIVAS, e mesmo assim vivermos nesse ambiente de evitá-la em sua plenitude a todo custo?

    O que passa pela cabeça dos que detêm o "poder"?

    Será que pensam que um bando de artistas livre-pensadores e formadores de opinião poderiam exercer tamanha influência sobre o povo ao ponto de desiquilibrar a governabilidade de seus domínios políticos?

    Será que acham que, ao criarem condições adequadas para "libertarem" nosso fazer artístico aprisionado, estariam correndo o risco de receberem em troco críticas vorazes por isso?

    Se nós, artistas, pudéssemos contribuir com nossa voz e com nossa atuação num processo de gestão organizada, colaborativa, deliberativa e aberta, na condução das políticas culturais de nossa cidade - isso não traria apenas benefícios imensuráveis para todos? Ganharia o artista, que poderia criar condições mais dignas para seu trabalho, gerando satisfação pessoal e renda; ganharia o povo, que teria à sua disposição os serviços básicos de acesso à Cultura previstos na Constituição brasileira, e tão ferozmente atrofiados nessas últimas décadas; ganharia o governo, pois estaria servindo à população da maneira exata que ela mesma gostaria, pois estaria ela mesma orientando sua atuação; ganhariam até os "políticos de profissão", porque um político que saiba ouvir e dar espaço ativo às lideranças locais, respeitando as convicções da classe artística, certamente seria beneficiado com o apreço desta mesma classe em futuros pleitos.

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    Às vezes penso que é tão simples promover a mudança esperada, que talvez isso assuste aqueles que aprenderam a lidar com os outros na base do poder autoritário, da troca mesquinha ou do desenvolvimento meramente pessoal.

    Caso não sejamos nós os que versam contra o atual estado de coisas, quem o fará?
    Se não estamos dispostos a levantar nossa arte como estandarte magnífico de uma conquista humanitária pela cidade, quem mais estará?

    Os que brindam por uma vida mais justa, juntem-se a nós - nossa ARTE angariará as mudanças necessárias! =)

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