sábado, 4 de dezembro de 2010

POEMA "Mirando a Morte"

POEMA-RESUMO




"Mirando a Morte"
(ou "Atualizando a Vida em 4 de Dezembro")



Nesses últimos meses,
Uma reflexão contínua
sobre a morte
e seus afazeres
(seus talabartes)
(seus talharins e talheres)
(seus atabaques)
tem me posto
em firme decisão de olhar.

Tenho dito
aos meus,
que viver é um mistério
e que optar pelo impulso
seja um caminho bom.
Tenho levantado a bandeira
da inconsequencia revolucionária,
do pronunciamento direto,
da crítica dita
- muito mais que pensada.

Tenho visto
que muitos dos meus
acreditam nas mesmas coisas,
escrevem sobre as mesmas coisas,
partilham a mesma estranha sensação
de infinitude e incompletude cáustica;
entretanto
entre tanto,
vejo que seu rosto
não sangra quando miram a morte.

Meu rosto tem sangrado
e singrado o manto
de meus mestres
continuamente,
num exercício
de viver a morte,
em seu sentido pleno.
Tenho vivido a morte
de um ego escoltado
pelas mentiras
que nos acomodaram
em ser seres humanos comuns,
com seus empregos comuns,
com suas famílias comuns,
seus fogões,
suas varizes,
seus infartos e esquizofrenias.

Não consigo fazer
que caiba em mim
a mesmice dos dias,
o joguete dos chefes,
a bebida na rua.

Não consigo saber
o que façam de mim
levantando-me ódios,
balançando-me os brios,
caçoando os emails.

Tenho mirado
a morte
e ela exígua de mim
minha parte abstrata.
Tenho, por parte dela,
no abstrato da mira,
imponderado a vida
como um dom precioso,
um som receoso,
um silencioso cio,
um rito sagrado.

Abro os olhos
e vejo no olhar
do espelho
(dos meus)
anseios de casas,
mulheres,
filhos,
carreiras,
espetáculos,
poderes,
partidos.

Tenho mirado a morte
e pouca coisa
me vale
quando me contam
meus últimos anos na terra.
Apenas as essenciais
permanecem.



Wellington Lyra
4 de dezembro - 23h30

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