sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Me perguntaram um dia se eu era ateu


Dedicado a Jonathan Molina, que me mostrou um caminho. E a Priscilla Lobo, que me abriu o olhar pra passear à vontade.

Um dia, descendo o Ganguri pra ir para o centro (e não era nem centro de macumba!), uma professora do Carlos Brandão me abordou: "- Posso te fazer um pergunta?". Podia, claro; afinal, minha vida é um twitter aberto. "- Você é agnóstico?".

A princípio eu não havia lembrado o que era um "agnóstico" (e acredito que muitos de vcs não lembrem agora também, não é?), de modo que balbuciei qualquer coisa tentando acessar meu dicionário de bolso. Como já estudei uma pá de coisas nessas áreas religiosas, pensei se tratar de alguma coisa mais esotérica como "Gnose", "RosaCruz", sei lá, uma dessas correntes mais cult do caminho espiritual.

"- Agnóstico... Ateu..." (ela explicou)

Ahhhh...! "Ateu" certamente é uma palavra muito mais popular que "agnóstico"; e define a pessoa que não acredita em Deus, ou em qualquer conceito de divindade.

Respondi que não. Um pouco surpreso, claro.

Claro que não sou ateu!

Pareço alguém que não acredita em Deus?

Na verdade tenho acreditado em tantas formas diferentes de interpretação de Deus que deve ser isso o que motiva as pessoas a acharem que não creio em nada "de fato". Sei lá, pode parecer que meu comportamento e minhas ponderações sejam um tanto papo de antropólogo, sociólogo, essas coisas. Como se o fato de eu respeitar as diversas manifestações religiosas existentes tivesse a ver com um olhar mais "frio" e "acadêmico" sobre o "comportamento humano", sem que eu me envolvesse emocionalmente com o fato analisado.

Deu pra entender?

Não consigo entender o que ocorre com as pessoas. Essa necessidade de convencer o outro de que minha religião é mais verdadeira que a sua. E mesmo que você admita que não pensa assim, que na verdade você respeita a opinião dos "diferentes", acaba por fim encontrando umas maneiras de ressaltar as vantagens ideológicas da sua corrente religiosa: "- É, mas lá minha igreja, a gente respeita o terreiro de candomblé, só não acha certo" ou então "- O catolicismo é uma religião valorosa, mas aqui a gente nem pode pensar em cultuar imagens!"

Quando não são declarados, os preconceitos resistem, só que velados, disfarçados. Mas sempre vêem à tona através de pequenos comentários, considerações. É o tal do "Discurso" na Psicologia, o "Falar" que sempre revela muito de nós.

Pra quê convencer o outro de que o nosso é melhor?

Isso não parece refletir um modo de pensar puramente capitalista?

Disputa de vagas de emprego, disputa de cargos políticos, disputa de dinheiro... disputa de melhor religião! Nada mais lógico num sistema como e$$e!

"Você é ateu?", ela me perguntou.

Isso porque no dia anterior, durante um curso sobre a África no Centro Cultural, eu havia dito que estava ali para conhecer outras culturas além da portuguesa-cristã que a gente sempre estudava nos livros de história...

Essa eu já conheço! Fui criado dentro desta doutrina, assim como 90% da população brasileira. Preciso conhecer mais...!

É claro que quero conhecer o candomblé! É óbvio que quero conhecer o Budismo!

Eu preciso entender isso! Preciso compreender o que é a Umbanda, como ela funciona; como é a cosmogonia evangélica; como é a ética dentro do islamismo. Preciso saber isso!

É um fato: populações inteiras do globo terrestre seguem religiões que são diferentes da minha. Será que eu tenho o direito de dizer que a minha - justamente a MINHA - em um mundo de 6 bilhões de pensamentos diferentes, logo a minha é que é a certa?! Qual o tamanho do meu egoísmo e qual o tamanho da minha humildade?

Acredito em diferentes formas de manifestação de Deus simplesmente porque não posso negar uma cultura já estabelecida, cultuada por milhares de seres humanos, simplesmente porque minhas convicções pessoais me levam para outro lado! ... Simplesmente porque, por um ato do destino, vim nascer em um país colonizado por cristãos e europeus...

Mas e os povos indígenas que viveram aqui antes disso? As etnias africanas que chegaram com suas culturas e cultos? Os imigrantes japoneses, os libaneses...?

Essas visões multiétnicas estão aqui, no meu sangue e na minha carne. Sou resultado desse processo histórico-cultural. Fazem parte do meu inconsciente coletivo.

Por isso vou com tanta facilidade a igreja católica, assembléia de deus, batista, racionalismo cristão, santo daime, umbanda, xamanismo, candomblé, aula de informática, campeonato de kung fu, o que for. E acho lindo cada rito, cada sistema desses. Cada um dentro de sua lógica apresenta uma interpretação do que é a verdade. São muitas as verdades! "A casa do meu Pai tem muitas moradas". É por aí... Está na Bíblia.

Mas por que citar sempre só a Bíblia? E como fica os Upanishads? O Corão? A cabala? A Doutrina Espírita de Allan Kardec? As manifestações do Caboclo das Sete Encruzilhadas? Os ensinamentos de Buda?

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Os fundamentalistas e os preconceituosos que me desculpem, mas essa disputa comercial e excludente de religiões é coisa de quem já está submerso num capitalismo ideológico!...


Sai desse corpo que não te pertence! Te repreendo em nome de Jesus! Rrsrs... Do Jesus Genérico, pelo menos. =)

9 comentários:

  1. aproveitando seu post pra dar minha opinião:

    religião é uma merda! todas! de todos os tipos e todas as culturas... o fato é que pra muitos a religião serve como comforto, para outros, uma mera "máscara social", afinal se respeita muito mais um bom católico do que um filho de ogum, tantas guerras e disputas por "N" deuses diferentes... Matar em nome de Jesus Cristo, ou matar em nome de Alá... que diferença faz? tudo uma grande bobagem... Eu particularmente acredito no BEM... e não precisa fazer caridade o tempo todo não... é só fazer o que quiser sem fazer mal a ninguém... pra isso não preciso pagar dízimo nem matar bodes... se me pergunta se eu acredito em Deus, respondo: sim, acredito, afinal de contas o que me cerca é muito complexo para ter uma explicação lógica e racional, mas o Deus que eu acredito não preparou um paraíso pra me recompensar, nem um inferno pra me punir, e na verdade só o chamo de "Deus" pra poder denominar esse "ser"... enfim... religião é uma merda!

    abrasssss

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  2. é uma merda mesmo!
    uma consideração: como agnóstico, não acredito que o agnosticismo seja bem lá uma "religião", no significado usual.
    Acho que seria mais uma posição em relação à existência (ou não) daquele deus, clássico, um velinho barbudo, ou até os do Dragonball Z, sei lá. Tipo um ponto de partida das suas crenças, sabe?
    Acho que cada pessoa tem a sua crença, mesmo sem saber defini-la, "seguindo" ou não uma religião.

    É por aí

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  3. Vamos fundar uma religião chamada "Não Aguento Essa Coisa de Religião", com sede no quiosque da praça e missa todo fim de tarde... =)

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  4. Por que citar só a Bíblia? Ora bolas, você já respondeu: é porque SÓ a Bíblia está certa! O resto, apesar de serem livros interessantes e com idéias que até fazem sentido, não contêm a Verdade, que só pode ser encontrada nas Escrituras Sagradas.

    (Eu sei que você entendeu, mas vamos deixar as coisas claras: este comentário é uma ironia).

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  5. Foi ótimo ter dito que é uma ironia, porque eu já tava aquecendo os dedos pra responder na lata!

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  6. Viu só? Rapaz, ninguém hoje em dia reconhece mais uma ironia!!

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  7. Éssa é a arte de viver da fé, mas nao se sabe fé em q.

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  8. Viva Paralamas do Sucesso! =)

    Rrsrs... Tá vendo, raphael, Mário?... A coisa da religião está tão intrincada em nós que o dedo já coça para combater uma declaração que não parecia ironia... rsrs

    O troço tá colado lá dentro, não tem mais jeito de arrancar não!...

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  9. Ei, foi dedicado a mim e eu nem sabia...que legal, achei no Google. Santo Google!!!

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